segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Foto 3 - 365 Project


Filme O Profeta. Um filme francês muito bom!

O francês de origem árabe Malik El Djebena (Tahar Rahim), de 19 anos, está sendo preso por supostas agressões contra a polícia. O começo de O Profeta (Un Prophète) não explica muito. Diz apenas que a pena é de seis anos. E mostra Malik tentando esconder uma nota de 50 francos na hora de ser revistado na prisão.

As duas primeiras informações - o motivo da prisão e a pena - levam a questões que o coroteirista e diretor Jacques Audiard (De Tanto Bater, Meu Coração Parou) alimenta para nos atrair de início. O que estaria acontecendo no lado de fora da prisão? A violência de Malik contra a polícia aconteceu de verdade?

Aos poucos percebemos que tratam-se de falsas questões. No filme de duas horas e meia, a câmera só deixa os corredores e as celas da penitenciária depois uns 40, 50 minutos - e seu interesse se volta para questões outras. O importante, naquele começo de filme, era atentar para a terceira informação: a nota de 50 francos.

O espectador atento perceberá que o filme se ambienta na virada do milênio, quando a comunidade europeia extinguiu as moedas locais, como o franco, em favor do euro. A adoção da moeda única na União Europeia é o pano de fundo de O Profeta, como se a confluência de culturas dentro da prisão fosse a metonímia da difícil manutenção da política cambial do continente.

Malik aprende rápido que, para sobreviver na prisão, precisa de aliados. Por pressão, encontra nos mafiosos ítalo-franceses da Córsega um abrigo. Sua origem árabe, porém, impede que Malik seja aceito plenamente pelos córsicos. Por extensão, a aproximação com os italianos fecha para ele as portas do segundo grupo dominante na prisão, os muçulmanos franceses.

Temos aí o cenário ideal para um arco típico dos filmes de máfia: o do faz-tudo borralheiro que, contra tudo e todos, costura pela hierarquia e ameaça provar aos chefões que pode mais. Audiard só foi sutil na hora de inserir a menção à moeda. De resto a mão do diretor pesa, e os desdobramentos de O Profeta vão do banal (pássaros cantando do lado de fora da prisão, sangue lavado pelo ralo) ao simplista (o árabe merece morrer porque é pederasta; o câncer do amigo facilita decisões morais), passando pelo populista (letreiros à Tarantino, músicas em inglês).

Quem gosta do gênero e não se importa em ser conduzido por ele pela mão, porém, deve gostar de O Profeta. Os ecos de O Poderoso Chefão vão até o desfecho do filme, cujo jogo de profundidade de campo no plano final lembra as questões de família vs. negócio do clássico. A interpretação dos problemas sociais europeus é um bônus.

Um comentário:

Beth disse...

Estou aqui sim, sempre acompanhando e torcendo por você!
Beijos! Feliz 2011!